07 dezembro, 2013

OQUE DIZER DO ILUSTRE CONTERRÂNEO: LOUCO, SANTO OU GÊNIO?


 O TRIUNFENSE, 07/12/2013

Bem poucas vezes somos senhores de nós mesmos.Milhares queremos, e não podemos; milhares fugimos e não escapamos; milhares nos esquivamos e à força prestamos!
                  (Robespier, in Lanterna de fogo).

Qorpo-Santo, essa figura ímpar, de batismo José Joaquim de Campos Leão, parece ser a figura mais controvertida da dramaturgia nacional. Sua obra ora é apontada como produto de uma mente inferior, perturbada pela doença mental, ora como produto de uma mente genial, que não é compreendida. Eu me pergunto se não seria uma mente genial mascarada com a loucura?

No teatro de QS cada personagem, além de surgir como um dos veículos de sua vingança contra o meio social e os desajustes humanos, é a expressão da criação artística em seu mais alto grau de elaboração, em várias obras, inclusive nesta que usamos para as citações: ‘Lanterna de Fogo’.

A sociedade impõe ao indivíduo diversas normas. Tal forma fixa de viver, para os mais sensíveis, acaba sufocando por completo o movimento natural de suas existências. Não raro, para enfrentar essas regras, há aqueles que se  vestem com  máscaras para evitar  o conflito com a sociedade vigente. QS é um ser dividido entre o que a sociedade dita como certo e o que ele próprio assim o considera.

A máscara de marginal, é preciso dizer, não é escolhida pelo próprio indivíduo. Ela sempre é atribuída pela sociedade, àqueles que não aceitam se submeter ou se adaptar a ela. De modo especial, a máscara de louco é um instrumento indispensável para a manutenção do status quo social, sobretudo da instituição familiar. A atribuição da máscara da loucura é um gesto que tem significado político, moral, religioso, econômico e social, é o meio que permite ao grupo eliminar os elementos diferentes, considerados  nocivos.

QS, enquanto dramaturgo - e louco - encontra na escrita uma chance de escancarar suas denúncias. Sua revolta não se conduz em uma única direção, seu teatro revisa as relações entre Deus e o homem, o homem e a comunidade, e o homem em debate consigo mesmo.

Por repetidas vezes, os laudos médicos  consideraram  o dramaturgo apto para gerir seus bens, gozando de plena saúde mental, apresentando apenas um acréscimo de atividade cerebral, uma vivacidade e atividade maior do pensamento. Entretanto, os últimos laudos já não são unânimes e acabam o levando a ser interdito pela Justiça. Parece que a insistência com que a família tenta fazer dele um demente, acaba tendo seus frutos.

Vendo-se impossibilitado de provar  em definitivo a sanidade, QS toma para si o papel de louco para não mais o largar. Afinal, como diz o criado ‘Impertinenti’,na peça ‘As Relações Naturais’: ‘o direito há muito que é morto’ .
Mas, Qorpo-Santo merece viver e para sempre,  em Triunfo e de Triunfo para o mundo.Pensem nisso. Namastê!


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