21 setembro, 2013

O PODER É O SONHO DE CONSUMO DOS QUE SE SENTEM PRIVADOS DELE


O TRIUNFENSE – 21/09/2013

O poder deveria carregar consigo a enorme responsabilidade de não ser utilizado para propósitos do ego, pois em nossa ganância podemos destruir facilmente o que tivermos pela frente. Na verdade não estamos muito longe disto. 

A Psicanálise oferece vastas explicações sobre como este processo se desenvolve na vida dos indivíduos. Segundo ela, é no relacionamento entre pais e filhos que os efeitos mais daninhos do poder são encontrados, porque ele sempre é utilizado para controlar as crianças, supostamente para seu próprio bem, mas na verdade está centrado absolutamente no interesse dos pais.

A teoria prega que o efeito do poder – e todo castigo é um exercício do poder, assim como as agressões verbais ou físicas – nega a individualidade da criança, reprime sua autoexpressão e anula seu direito de discordar. E o principal: é ali (e só ali) na tenra infância, que aprendemos a lidar com o poder que obtivermos – ou não - futuramente na vida. Portanto, da ignorância e destempero de pais podem surgir mais filhos ditadores.

Sempre que a criança se sente privada de prazer - e são inúmeros os momentos que isto acontece, pois no seu mundo o importante é brincar com o que quer à hora que bem entender - lutará para continuar obtendo-o. Inúmeras também são as possibilidades disso acabar gerando conflitos com seus pais. 

A solução do impasse criado entre ambos logo se transformará numa questão de poder, porque os pais percebendo ameaçado o seu direito de controlar a situação, não hesitam em usar mais poder para fortalecer a sua vontade.

Segundo Freud e seus seguidores, a briga entre pais e filhos se originaria da dificuldade daqueles em lidar com o senso de onipotência que o bebê traz ao nascer, derivado de sua vida intrauterina, quando todas as suas necessidades são automaticamente satisfeitas e que é fortificado, durante o período de amamentação no peito. Para o bebê só existe o seio da mãe, ele é o mundo, e se o encontra sempre ao seu alcance sentir-se-á como se fosse o dono do universo.

Uma vez que a falta de poder está associada na mente das crianças à ausência de prazer, parece lógico que o prazer só possa ser obtido através do poder. Em consequência disto, a imagem do sucesso é a realização ilusória da criança que foi privada do seio materno. Diante disso, os teóricos concluíram que quem procura o poder e luta pelo sucesso possui uma fixação em nível infantil. Seu sonho reside em conseguir poder ou sucesso, quando então poderá descansar, pois todos os seus desejos serão realizados pelos outros

Todos temos ciência de que quando o poder está nas mãos de alguém carente, a situação torna-se perigosa. Não importa se esse poder signifique dinheiro, automóvel de grande desempenho ou uma arma, o risco do bem-estar humano é grande. Da mesma forma o poder político, que concede a um indivíduo mal formado sentar-se na cadeira que detém o poder, pois apenas com sua caneta poderá cometer verdadeiros crimes, imitando, na maioria das vezes seus ídolos de criança, que passa a personificar. Dita a teoria psicanalítica que os únicos que conseguem lidar construtivamente com o poder são os que foram satisfeitos na infância e – por isso mesmo - sabem aproveitar bem a vida.

Há um velho ditado que diz que o poder corrompe as pessoas, geralmente aplicado a governantes ou a indivíduos em posição de autoridade, mas que na realidade se expande a todo e qualquer manutenção de poder. 

Desconhecer a força inserida no poder destituído de responsabilidade e ética, é ignorância, pois infelizmente ele tanto pode ser conduzido para a construção como para a destruição, da terra e de tudo que ela contém, especialmente seu mais precioso bem: as vidas humanas.Pensem nisto. Namastê! 

14 setembro, 2013

O EDUCADOR NÚMERO UM É O EXEMPLO


 O TRIUNFENSE , EM 14/09/2013.

A criança pequena não distingue o moralmente bom do ruim, o amor filial a induzirá a imitar os pais em suas qualidades e em seus defeitos. 

Quanto mais uma criança ama aos adultos que cuidam dela, mais passa a imitá-los e a assumir seus valores, influenciando suas ações, conscientemente ou não. Ao contrário, quanto menos os ama, mais negativamente reage na formação de suas qualidades.

Mesmo quando um filho admira os pais, sente-se amado por eles e deseja imitá-los não é fácil obter autodisciplina. Muitos pais não são tão disciplinados como o esperado e não podem oferecer uma imagem clara a esse respeito para que possam ser imitados.

 E, até porque é preciso um número infinito de exemplos paternos de autocontrole e paciência para ensinar os valores deste tipo de comportamento e influenciar a criança a internalizá-los. 
Adquirir autodisciplina faz parte de um processo muito trabalhoso e contínuo, de pequenos passos e muitas recaídas. 

Por outro lado, toda criança sofre quando não é preferida, enquanto a maioria dos pais prefere iludir-se, achando que ama aos filhos por igual. Isso é impossível, os filhos são diferentes e não podem ser amados de maneira idêntica pela mesma pessoa. 

Em algumas famílias os pais não apreciam muito um filho ou outro e não se comportam de maneira a inspirar admiração amorosa. Ainda assim a vida é sábia e esse filho, que não admira ao pai – e, portanto não deseja imitá-lo - pode encontrar uma  outra pessoa para respeitar a imagem de quem possa formar-se. É claro que isto só ocorrerá se o seu desejo de ser o preferido - ou pelo menos um dos mais estimados - não for muito gravemente frustrado pelos pais.

Já aquela criança que não conseguiu adquirir autocontrole numa idade mais tenra seguindo o exemplo dos pais e se transformou num adolescente rebelde, ainda assim pode sentir-se impelido – por necessidade inconsciente – a encontrar um ‘mestre’ a quem imitar e possa buscar e encontrar alguém indisciplinado. 

Reparem, ‘indisciplinado’, para ter como modelo. Nesse caso, as más consequências são inevitáveis, com o passar do tempo, e as crônicas policias nos dão um amplo mostruário disso.

Se fôssemos mais conscientes e lembrássemos como nos sentíamos cobrados, maltratados, quando éramos crianças e nossos pais nos forçavam a agir de maneira disciplinada contra a nossa vontade, certamente nossos filhos/alunos então estariam em situação mais cômoda, assim como nós, que  teríamos muito mais paciência, compreensão e disponibilidade para tratar do assunto disciplina.

 A verdade é que, mesmo depois de adulto, quando muitos filhos esforçam-se por serem diferentes de seus pais, nos momentos em que a emoção prevalece vão agir, como aprenderam a ser, na sua mais tenra infância.  

Portanto, pai, mãe, professor(a) de educação infantil, corrija-se, auto-discipline-se, não esqueça que é o espelho da criança com quem convive. Procure ser coerente, pensando e agindo em consonância com os valores que apregoa, para não ‘ajudar’ a formar nenhum mau caráter, psicopata ou pior ainda, um psicótico, que se perca ao evadir-se da realidade por não suportar o desamor e a incoerência das pessoas que ama. Pense nisto. Namastê!


07 setembro, 2013

Onde está o conhecimento que perdemos na informação?


 O TRIUNFENSE, 07/09/2013.

Estima-se que o volume de Informações produzido pela humanidade dobra a cada 20 anos. Mesmo imaginando a impossível atividade de lermos 10 h por dia, a uma média de 15 pág./h, sem finais de semana livres, que utilidade essa carga de informação teria?

 Se pensarmos que cada vez mais o conhecimento deve tender à globalização e não à especialização, como durante muito tempo se admitiu, veremos que é impossível acessar toda a informação ao mesmo tempo. Mais do que isso, qual seria a utilidade?

Apesar dessa constatação a escola – do 1º ao 3º Grau - continua tentando formar alunos como se ainda estivéssemos no século passado. Ensinando fatos, cobrando memorização, num nítido desvio de seu principal papel: o de ensinar a aprender. 

A maior parte da informação transmitida na escola é mero ruído, quando não se encaixa em algum modelo, quando não possui utilidade imediata. O indivíduo deve ser sabedor da existência de determinadas informações e de onde se localizam para que no momento adequado as acesse. 

Nesse sentido, é papel importante da escola criar ambientes de aprendizagem fundamentados na pesquisa, enquanto busca e avaliação de informações.

O profissional do futuro - e o futuro já começou - terá como principal tarefa aprender, pois para executar tarefas repetitivas existirão os computadores e robôs. Ao homem compete ser criativo, imaginativo, inovador. A carga horária de trabalho desse profissional cairá para 4, 5 horas. E dentro dessa carga, em torno de uma hora diária será dedicada ao que podemos chamar de produção propriamente dita e as demais serão usadas no estudo, na pesquisa, aprendizagem.

 Isso não é mera futurologia, pois hoje já existem profissões baseadas no conhecimento - e não na venda de força de trabalho. Uma única boa ideia justificará o salário de vários anos de um empregado numa empresa.

A escola está perdendo tempo, porque precisa preparar seus alunos para esta realidade, desde ontem. 

A sua tarefa mestra do Aluno-professor,  objetivo, meta, como queiramos chamar, é a de aprender a aprender, e aprender a fazê-lo com autonomia e excelência. O conceito de educação permanente será mais válido do que nunca. O homo studiosus como realização dos mais velhos sonhos humanistas, libertando o homem das tarefas desumanizantes - que qualquer máquina, robô ou computador pode fazer - e tornando a cultura, o saber e a arte sua principal tarefa. 

Neste cenário – e que venha logo esse futuro -  não haverá mais diferença entre escola e profissão. A hora é agora, não basta a lamúria, a mera boa-vontade ou mesmo a determinação política: temos que conhecer e utilizar os avanços da humanidade e integrá-los à escola. Por que a escola tem que ser mais atrasada e mais enfadonha do que a TV, o vídeo game e a internet ? 

Nenhuma criança demonstra mais atração por esta espécie de sadomasoquismo cognitivo de nossas escolas, e para sairmos deste impasse, uma das alternativas é o uso das novas  tecnologias educacionais. Pensem nisso. Namastê!