30 março, 2013

NÃO SUBESTIME O VALOR DO COELHINHO DA PÁSCOA


O TRIUNFENSE, 30/03/13.



Os humanos, e muitos animaizinhos também, têm a necessidade de confirmar a sua importância, se possível perante todo o universo, ou pelo menos diante daquelas pessoas que são mais significativas para eles. As crianças, mais do que ninguém, precisam dessa experiência de aprovação, que é confirmada quando as reconhecemos ao celebrar as festas infantis, em casa ou na Escola: Natal, Páscoa, Dia da Criança, aniversário, etc., pois são muito necessárias para a formação dela.


O psicanalista Bruno Bettelheim, que dedicou-se ao estudo e tratamento da psique infantil, por mais de meio século, garante que se essas ocasiões são comemoradas com verdadeiro entusiasmo. O brilho desses dias pode espalhar-se por toda a vida do sujeito. A repetição regular dessas festas é a garantia que a criança tem de que continua sendo importante para os pais e professores. As datas festivas pontuam o ano da criança construindo e constituindo os pontos altos que devem servir de referência para a promoção de eventos felizes, que somados dão alento por toda a vida dela.


Bettelheim explica que essas festas contém uma característica que as distingue dos outros dias, pois nelas a criança é a rainha, ela pode exigir coisas dos adultos, que não lhes são facultadas no dia a dia, pode fazê-los sentir medo delas, como no dia das bruxas, pode fazê-los de bobos, como no dia 1º de abril. Essa inversão de status, somada à conotação mágica desses dias, são razões muito importantes para que sejam datas especialmente significativas para ela.


Os professores e pais podem explicar o significado dos feriados, mas o que fica gravado na cabeça da criança é a refeição generosa e o espírito das boas amizades. Ao nível consciente, essas datas são importantes para a criança, principalmente pelos sentimentos ternos despertados nela por toda a festividade e essa sensação pode revestir de um brilho prazeroso as ideias abstratas relacionadas à essa celebração.


Já em nível subconsciente, alguma coisa do que o dia simboliza continuará a exercer sua influência para sempre. As festas familiares celebradas em torno de um mesa arrumada com uma refeição bem caprichada combatem as maiores ansiedades das crianças, tanto em termos de experiência real, quanto em nível simbólico.

 A reunião do clã renova a confiança da criança, mostrando-lhe que ela não precisa apoiar-se exclusivamente nos pais. Sua segurança contra o abandono – o medo da privação física e emocional, que habita todos nós quando crianças e, às vezes, pela vida afora – pode ser ancorada ao perceber que ela não precisa apoiar-se exclusivamente nos pais, pois muitos outros parentes estariam disponíveis em um momento de crise e a protegeriam do abandono.


Do mesmo modo a refeição farta oferece segurança contra a ansiedade da fome. Especialmente as datas em que se comemoram nascimentos e renascimentos, como a ressurreição de Cristo, trazem consigo a esperança inerente desse significado simbólico que continua a repercutir em todos nós, quer tenhamos consciência disso ou não.


O que é esplêndido em relação à mágica positiva da alegria dos feriados é que ela pode proporcionar segurança durante todo o ano, quando mais se necessita dela, mesmo sob as piores circunstâncias da vida. As crianças têm conhecimento disto e, sempre que precisam, usam a segurança simbólica que o espírito festivo oferece para proporcionar a si mesmas o apoio moral, quando mais desesperadamente necessitam dele. Cuidemos então, com carinho e magia das nossas crianças, por ocasião das suas festas. Feliz Páscoa a todas as crianças triunfenses, de zero a 100 anos. Namastê!

23 março, 2013

QUEM LUTA POR SONHOS VÊ LIÇÕES NOS ERROS

O TRIUNFENSE, 23/03/13.

Errar é uma etapa do inventar, falhas são degraus do criar. Augusto Cury, in Nunca Desista dos seus Sonhos.

Eis me novamente saboreando as instigantes ideias deste autor que critica a cultura das provas existentes em quase todas as escolas do mundo, porque desrespeita a pedagogia do ensaio/erro, que promoveu as grandes conquistas da história. Ao ser punido com notas baixas, o aluno registra de maneira privilegiada o fato, através do fenômeno RAM, Registro Automático da Memória, e inicia ali, ou ratifica-se, o processo de obstrução da sua ousadia e inventividade. Relembra-nos que caímos muitas vezes até aprendermos a andar. Quem erra tem oportunidades de sonhar com as conquistas, mais chance de aprender e mais gosto pela vitória.


Flaming, descobriu a penicilina graças a um fungo que contaminou a lâmina de cultura, que deixara sem proteção no laboratório. Roentgen, o Raio X, pelo descuido no manuseio de uma placa fotográfica. Einstein teve de recuperar do lixo algumas etapas das equações que o levaram à Teoria da Relatividade. Simon Campbell errou ao não conseguir chegar a um novo medicamento, para desobstruir artérias em casos de angina, mas chegou ao Viagra. Resumindo: o que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida.


O medo sepulta milhares de sonhos, mas quando neles estão incluídos os outros ou buscam alguma maneira de contribuir para o bem da humanidade, suportamos mais facilmente os temores e dissabores da vida.


O autoritarismo dos superiores – sejam eles pais, professores ou chefes - extermina a criatividade e a inteligência. Temos que mandar menos e batalhar nas salas de aula, nos lares, nas igrejas, nas praças, na vida, para que nossos jovens não venham a medir os seus semelhantes pelo poder político ou financeiro, mas pela grandeza de seus sonhos, pela paixão que possuem pela vida, pelo amor à humanidade, pelo desejo de serem úteis aos outros.


O autor, que enaltece o valor dos sonhos, o valor do livre pensar e o valor dos pensadores apaixonados pela existência, afirma que nossa espécie está doente. Acometida de: SPA, Síndrome do Pensamento Acelerado, que gera pessimismo, estresse, individualismo, competição predatória, falta de amor, falta de fraternidade, falta de sabedoria, superficialidade, racismo, preconceitos...


As ideias devem servir à vida e não a vida às ideias, pois os piores inimigos de uma ideia são aqueles que a defendem radicalmente, até porque, como todos sabemos, os grandes pensadores que a humanidade já viu nascer foram exímios questionadores que usavam a arte da dúvida e da crítica para ampliar o mundo das ideias e dos ideais.


Lembrem-se que nada é tão perigoso para aprisionar a inteligência do que aceitar passivamente as informações. Pense nisso ou leia a obra citada. Namastê!

16 março, 2013

SEMEAR BOAS IDEIAS É TAREFA ESSENCIAL DE UM POFESSOR



O TRIUNFENSE, 16/03/13



Mesmo que a Educação esteja passando por uma crise séria, a tarefa de educar se compara a de um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias. Quem afirma isto é Augusto Cury, em ‘Pais Brilhantes, Professores Fascinantes’, editado pela Sextante. A gentileza, a solidariedade, a fraternidade, a ética, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da sensibilidade, não podem ser ensinadas por máquinas, por mais que a tecnologia venha a evoluir.

Além de educar a emoção, precisamos ensinar os alunos a serem pensadores e não repetidores de informação. A educação clássica apenas transforma a memória num banco de dados, com informações de pouco uso ou mesmo inúteis. Um bom professor se preocupa com as notas dos alunos, enquanto um professor fascinante se preocupa em transformá-los em engenheiros de ideias.

Mas os professores também devem proteger suas emoções diante dos conflitos dos alunos, é claro. Nestas horas, a melhor resposta é não dar resposta alguma, silêncio. Respire fundo e surpreenda a classe com gestos inesperados. Leve-os, com o coração aberto a pensar, a mergulharem dentro de si. Não é fácil, mas é possível. Com a emoção tensa fecha-se o território de leitura da memória, obstrui-se a construção de cadeias de pensamento e agimos por instinto.

Tenha como meta levar os alunos a explorar o desconhecido para não terem medo do fracasso, mas apenas o medo de não tentarem. Novas experiências propiciam crescimento intelectual e geram flexibilidade, pois só não muda de ideia quem é incapaz de produzi-las. Professores fascinantes são também promotores de autoestima, dando atenção especial aos alunos tímidos e aos desprezados pelo grupo.

Segundo Cury, os educadores erram muito ao corrigir publicamente um aluno porque podem gerar um trauma inesquecível que controlará a vítima por toda a vida. A pessoa que erra deve ser mais valorizada do que o erro. Expressar autoridade com agressividade, é péssimo. Ser excessivamente crítico obstrui a infância ou a adolescência. Punir quando se está com raiva e colocar limites sem dar explicações é bastante grave. Os alunos insuportáveis é que testam o nosso humanismo, porque por trás de cada aluno arredio ou agressivo há uma criança implorando afeto. Não cumprir a palavra dada é inadmissível, pois perdemos a confiança, e confiança perdida dificilmente é restaurada. E o sétimo, e maior pelos educadores, na concepção de Cury, é a destruição da esperança e dos sonhos dos alunos.

Os jovens que perdem a esperança têm enormes dificuldades para superar seus conflitos, por menores que sejam. Os que perdem seus sonhos são opacos, não tem brilho, gravitam em torno de suas misérias emocionais e nada produzem. Não esqueçamos que, como apregoa o autor, “Os psiquiatras, os médicos clínicos, os professores e os pais são vendedores de sonhos. Uma pessoa só comete suicídio quando seus sonhos se evaporam, sua esperança se dissipa”. Sejamos, pois, conscientes do que vendemos nas nossas salas de aula. Pensem nisso ou leiam o livro comentado. Namastê!

09 março, 2013

FALA-ME DE TEUS PAIS E TE DIREI QUEM TU ÉS...


O TRIUNFENSE, 09/03/13.



Não é bem assim,mas quase! Vários fatores influenciam a formação do sujeito, tais como a genética e as relações sociais, porém a família tem um papel preponderan-te sobre os outros. Enquanto a criança convive com os pais, o contexto familiar é responsável pela sua socialização. O comportamento dos pais tem forte efeito sobre o desenvolvimento social e a personalidade dos filhos.

 Há pais bastante comunicativos, que utilizam raciocínio e elogios para obter a conformidade da criança; outros que não costumam consultá-la nas tomadas de decisões; e ainda os que cedem ao seu choro e queixa ou usam a “técnica da distração”, fugindo da abordagem direta.


A afetividade dos pais é outra dimensão que influencia os sentimentos da criança com relação ao controle exercido sobre ela. Há pais que exigem altos níveis de amadurecimento dos filhos, tanto no aspecto intelectual, como social e no emocional. Há no entanto os que subestimam suas competências. 

E ainda aqueles que acham que o certo é não lhes fazer nenhum desafio, mas deixar que o desenvolvimento ocorra a seu tempo. Temos três tipos básicos de pais: os autoritários, os permissivos e os democráticos.

São considerados autoritários os pais que apresentam baixos níveis de afeto explícito e de comunicação e altos níveis de controle e exigência de amadurecimento dos seus filhos. Pais assim – a Psicologia nos assegura – resultam em filhos que tendem a ser obedientes, ordeiros e pouco agressivos. Se por um lado parece legal, não é bem assim, os filhos tendem também a ser tímidos e pouco persistentes no momento de seguir suas metas. Não conseguem expressar afeto com facilidade em suas interações,não tomam iniciativas nas relações e são pouco espontâneos. A autoestima também tende a ser baixa, são inseguros, pouco alegres, apreensivos, irritáveis, mais vulneráveis às tensões e mais coléricos. Parece meio alto o preço a pagar, não?


Já os permissivos são os que adotam uma atitude geral positiva, consultando a criança sobre as decisões que afetam a família, aceitam suas condutas, desejos e impulsos e não dão muitos castigos. Não exigem dela responsabilidades e ordem. A criança se auto-organiza ao seu modo, sem normas impostas. Esta é uma relação que gera crianças mais vivas do que as dos pais autoritários, porém são mais imaturas, com problemas para controlar seus impulsos, dificuldades para assumir responsabilidades e também apresentam baixos níveis de autoestima.

E os democráticos são os que apresentam altos níveis, tanto de comunicação, como de afeto, controle e exigência de amadurecimento dos filhos. São mais sensíveis às solicitações de atenção das crianças, mais afetuosos e sabem cobrar o que elas são capazes de dar. Resultam disto filhos mais desejáveis em nossa cultura. São crianças hábeis nas relações com o iguais, carinhosas, independentes, capazes de enfrentar situações novas com confiança e iniciativa e com altos níveis de autoestima e autocontrole. É difícil ser pai e/ou mãe democrático(a) porque enquanto as crianças crescem, os adultos voltam a agir, muitas e muitas vezes, com os sentimentos inerentes às suas próprias infâncias... Mesmo assim, vale o esforço e viva a democracia mais uma vez! Namastê!