O TRIUNFENSE, 24/08/2013
É preciso que se diga que leitura não é passatempo, pode – e deve
inclusive - ocupar um tempo considerável das nossas vidas, mas leitura é
trabalho, é atividade, é intervenção do leitor no texto produtivo. É um ato que
exige empenho, atuação, persistência.
Ler é conhecer, não apenas no sentido de
acumular informações, mas de integrar-se à realidade do mundo e da
interioridade. É buscar a capacidade de se propor utopias para depois
persegui-las, enquanto vivos,para
que depois de mortos, alguém continue a
colher o que semeamos e entusiasmado recomece o plantio.
Onde aprendemos a ler? Geralmente na escola, mas contraditoriamente algumas pesquisas dão conta de que o
professor leitor-crítico é raridade em nossas escolas, especialmente as
públicas, seja pela falta de salário digno, pelo tempo escasso, desinformação,
lacunas na formação profissional, etc.
Em paralelo, estudos apontam que entre
os alunos egressos do sistema escolar a maior dificuldade apresentada, ao se
defrontarem com um texto é interpretá-lo, e até entender o que dizem as
palavras ali escritas.
Paradoxalmente, nunca se publicou tanto na história da escrita
como no século passado. Mesmo com a entrada vitoriosa dos computadores na vida
moderna, a escrita e a leitura continuam sendo ações indispensáveis ao
desenvolvimento humano.
No entanto, não tem crescido, proporcionalmente, o
número de leitores críticos, com capacidade de desempenharem-se bem em
múltiplas escritas e competência de ler entrelinhas, entre estudantes de todos
os níveis de ensino.
Numa ciranda perversa, o leitor formado pela escola somente lê o
que lhe cai graciosamente às mãos - geralmente textos em Xerox, no mínimo incompletos.
Ao deixar as salas de aula, a falta de exercício da leitura verbal reconverte-o
em analfabeto, ou o torna um analfabeto funcional e, muito tragicamente, em um
cidadão que sabe ler, mas não lê.
Dito isto, tristemente concluímos que as salas de aula – na mais
feliz das hipóteses, considerando-se os altos níveis de evasão e de repetência
das escolas públicas - tem sido apenas alfabetizado-
ras, isto é, capaz de dar a
conhecer às crianças a correspondência entre o som e a letra e tem se mostrado
incapaz na formação de leitores.
Da mesma forma os pais que não leem não podem
cobrar dos filhos a leitura e, muito menos educam pelo exemplo, que é o melhor
professor.Tomara que um dia - espero que esse dia venha logo – autoridades em
educação, em todos os níveis – se deem conta do quanto é necessário investir, e
cobrar os resultados do investimento, nas áreas de formação, informação e
atualização dos professores, assim como melhorar seus salários para que estes
deixem de trabalhar 40, 60 h por semana, e tenham mais tempo para ler, e,
consequente-mente para ensinarem a ler, de verdade. Pensem nisto! Namastê!
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